CLT vs. PJ

Deeploy.Me
5 min readJun 8, 2020

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Qual formato de contratação garante estabilidade na carreira de UX/UI Designer?

Cytonn Photography on Unsplash

Introdução

Como recrutadores especializados em UX/UI Design, lidamos em nosso dia-a-dia com opiniões de profissionais sobre os diferentes formatos de contratação praticados no Brasil. Empresas optam pela CLT (profissional oficialmente contratado) ou pelo PJ (profissional como um prestador externo) — opções estas que tem seus prós e contras. Qual é mais agregadora para sua carreira no longo prazo? Nesse artigo, vamos tratar desse ponto.

O princípio do trabalho

Friamente falando, trabalhar nada mais é do que trocar seus talentos, habilidades e experiência por valores monetários. É a troca que todos os que trabalham para empresas fazem, todos os meses e todos os anos de seu período de vida útil no trabalho. Com esse conceito em mente, não importando o tamanho da empresa, do projeto e do time, são utilizadas modalidades de contratação em caráter regulatório para que tanto contratantes quanto contratados tenham claros os direitos e deveres da assinatura desse contrato.

O que profissionais não estão acostumados a ver é a mentalidade das empresas por trás da decisão sobre o formato de contratação. É perfeitamente natural que você esteja pensando em seu benefício: Afinal, todos nós queremos um ambiente acolhedor, gente bacana, projetos promissores e salário digno. Mas como mencionamos no artigo Entrei. Saí. Onde errei?, não esqueça que antes de tudo isso existir, alguém arriscou tudo, teve coragem, ousadia, resiliência e determinação para não apenas abrir um negócio, mas para mantê-lo vivo e operante pelo máximo de tempo possível. Todo esse suor e lágrimas derramadas do empreendedor não são considerados por seus colaboradores, na maioria dos casos. Logo, como qualquer decisão que um empresário e sua liderança deve tomar, o formato de contratação é definido de acordo com as possibilidades da empresa e o perfil de seus projetos, dados todos os benefícios e riscos que cada modalidade traz.

Não vamos entrar no detalhamento contábil dessa questão, fazendo comparações e tirando conclusões de quem é melhor ou pior para sua carreira. Para todos os efeitos, empresas brasileiras praticam 2 formatos tradicionais de contratação — Você precisa conhecer os direitos e deveres desses dois formatos, e definir qual funciona melhor para você. Vamos a eles:

CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)

Trata-se da lei trabalhista do Brasil. Nela estão incluídas as normas que regulam as relações de trabalho entre o empregador e os empregados, considerando seus direitos e deveres. Nesse caso, o profissional contratado é remunerado mensalmente e arca com impostos sobre seus serviços, como pessoa física.

PJ (Pessoa Jurídica)

Trata-se da modalidade em que o prestadores são, juridicamente, outras empresas. Dessa forma, não há vínculo empregatício formal entre as partes, estando essas em comum acordo pela compra de serviços prestados a serem pagos pela contratante. Essa modalidade requer que o profissional tenha uma empresa aberta (CNPJ) para que seja tratado com uma empresa, emitindo uma nota fiscal de serviços e arcando com impostos à empresa, sobre esses serviços.

Porque empresas contratam PJ?

Por muitas vezes escutamos que empresas que contratam na modalidade PJ são alguma espécie de vilões, que só querem prejudicar e arrancar os direitos do trabalhador. Nenhuma empresa nasce pensando em escravizar o funcionário; De fato, os direitos do contratado em regime CLT (empresa-pessoa física) são diferentes dos em regime PJ (empresa-empresa). É importante citar que no Brasil é extremamente difícil empreender devido à alta carga tributária — a empresa paga para contratar, tem um custo de funcionário muito maior do que o valor pago a ele e paga ainda mais caro para desligá-lo. Logo, dependendo do planejamento da empresa para o projeto em questão, a PJ torna-se uma alternativa viável em alguns casos. Há dois indicadores principais que definem essa decisão:

O tamanho do projeto

Empresas criam projetos de curta duração, pelos motivos mais variados: Uma ideia precisa ser validada (para posteriormente se tornar algo maior), o projeto realmente tem começo, meio e fim (como uma feature nova de um app), a empresa está crescendo (e ainda se adaptando a esse crescimento), entre outras. Nesses casos, não é interessante para a empresa montar um time fixo pois os encargos gerados no caso da não continuidade do projeto inviabilizam seu próprio budget. Por isso, normalmente esses são os projetos em que os UX/UI Designers são melhor remunerados, e que empresas igualmente buscam profissionais altamente qualificados.

Alta taxa de turnover

É comum que empresas infelizmente não consigam reter seus melhores talentos. Seja por propostas melhores (com o mercado aquecido, os melhores profissionais são assediados diariamente), ou por não encontrarem o culture fit que buscavam, ou por serem mesmo desligados por motivos variados. Nesses casos a empresa arca com prejuízos financeiros enormes, além de toda a problemática de substituir o profissional em tempo hábil para não prejudicar o andamento do projeto.

Mais flexibilidade

Em um ambiente cada vez mais incerto, para o caso de o projeto passar por qualquer eventualidade, a empresa ganha mais flexibilidade para negociar contratos e reduzir jornadas, por exemplo, para conseguir evitar o desligamento do profissional e manter a integridade do projeto.

Em suma, o formato de contratação é uma decisão de negócios baseada em números e em análises de risco, tomada pela empresa para que o projeto seja viável e tão logo veja a luz do dia. Se você não concorda com esse formato, é muito simples: Não aceite a vaga.

O fantasma da estabilidade

O que ouvimos com certa frequência é a palavra estabilidade. “Ser contratado em CLT é sinônimo de estabilidade, enquanto PJ é risco total”. É aí que você se engana — CLT não é certeza alguma de estabilidade. Se fosse, com exceção do funcionalismo público (não aplicável para nosso setor), as pessoas jamais seriam demitidas de seus empregos, durante seus 35 anos úteis de trabalho. Como disse Flávio Augusto, “estabilidade não existe”. Não importa se você é milionário ou pobre, CLT ou PJ, você nunca está em um ambiente totalmente estável.

Vemos UX/UI Designers contratados em regime CLT, que em menos de 3 meses são desligados; enquanto vemos outros contratados em regime PJ tendo seus contratos renovados constantemente. Logo, em nossa experiência, é possível afirmar com certeza que a tão sonhada estabilidade só existe de verdade se for ditada pela sua performance profissional. Se você trabalha eticamente, respeita as pessoas hierarquicamente superiores e inferiores a você, interage bem, entende seu papel e o cumpre com maestria, é engajado(a) com a comunidade e está sempre evoluindo, sua carreira certamente terá muito menos oscilações.

From Giphy

É muito fácil profissionais culparem a situação do Brasil, a empresa, a falibilidade do time ou até mesmo sua liderança, quando na verdade, seus entregáveis é que são questionáveis. Sua estabilidade está diretamente atrelada à sua entrega, e não ao seu regime contratual — seus resultados são o principal indicador da constância da sua carreira.

Empresas buscam profissionais com esse mindset. Se tomarmos por exemplo a postura de empresas com relação ao impacto do COVID-19, foram inúmeros casos em que fortemente recomendaram seus melhores profissionais, enquanto lamentavam ter que perdê-los. Isso prova que mesmo as empresas realmente precisando desligá-los, fizeram o possível para os ajudar a se colocarem novamente no mercado, em respeito à sua postura profissional.

Conclusão

Nenhum formato de contratação garante estabilidade em sua carreira. Um pode trazer mais benefícios, outro mais dinheiro; mas no final do dia, sua performance é que vai ditar a quantidade e a intensidade de oscilações em sua jornada na maravilhosa carreira de UX/UI Designer.

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