Porquê a pressa em ser Sênior?
Como ser um UX/UI Designer interessante durante seu amadurecimento profissional
Introdução
Muito se escuta sobre o fato de que empresas, em sua busca por UX/UI Designers, acabam por solicitar sêniores na grande maioria dos casos. Isso resulta em uma disparidade enorme de vagas para esse nível, comparando com plenos e júniores. Profissionais precisam de experiência de trabalho para crescer, mas a oportunidade de adquirir essa experiência não se abre. E enquanto essa conta não fecha, permanecem descolocados, enquanto os mais experientes chegam até a escolher onde querem trabalhar. Porque exatamente isso acontece? No artigo de hoje vamos ver quais são os fatores que comprovam a real senioridade, porquê profissionais tendem a acelerar esse processo e o que você pode fazer ainda hoje para chegar lá.
Mas afinal, o que é ser sênior?
Como esse termo tem sido usado com muita frequência, entendemos que esteja acontecendo uma diferença de definições e opiniões. Ser sênior é ter uma quantidade definida de anos de estrada? É ter um conjunto de habilidades? Dominar totalmente as ferramentas? Ou mesmo, ter idade mais avançada como muitos pensam?
É importante frisar aqui que nossa opinião é fundamentada em nossa experiência como recrutadores: Nossa vivência direta com empresas contratantes e com profissionais que realmente estão nesse nível de maturidade nos dá insumos suficientes para entender e definir o que é realmente ser sênior.
Conforme falamos em nosso artigo Como aplicar a uma vaga de UX/UI Designer, em uma definição muito simples, um profissional sênior é capaz de resolver problemas complexos sem ajuda e de guiar outras pessoas menos experientes. Com base nessa definição, para que um UX/UI Designer proceda de forma satisfatória nesses dois pontos é necessário que ele tenha uma experiência real adquirida ao longo de anos, tendo experimentado diversos tipos de desafios em cenários diferentes — considerando não apenas processos, mas principalmente pessoas. Com isso, entende-se que as suas soft skills constróem muito mais sua maturidade profissional do que suas hard skills. Listo abaixo alguns dos principais indicadores sobre a senioridade em UX/UI Design na prática:
Entender completamente do processo
Conhecer o processo de UX de ponta-a-ponta é um fator básico. Entende-se que “saber fazer UX” já é um quesito requerido de um júnior; mas um profissional sênior tem uma visão mais ampla desse processo, sabendo exatamente como implementá-lo pois conhece e domina as melhores práticas para fazê-lo considerando as pessoas, a cultura da empresa e o objetivo do produto.
Ser um entusiasta de UX
O ponto aqui não é simplesmente pegar um megafone e gritar dos telhados como UX/UI Design é legal, funciona, cria experiências e deixa mais bonito. Para que esse entusiasmo seja autêntico, a postura do sênior é falar menos, e mostrar mais. Seu mindset está orientado ao potencial que um bom processo de UX pode trazer a todas as esferas de um produto, e automaticamente, aos negócios da empresa que o detém. E é sobre esse potencial que o entusiasmo surge, em uma conversa de minutos no elevador.
Ter uma visão de viabilidade de execução
A experiência de um sênior lhe esclarece enormemente a “acabativa” de um projeto. Muitos tem iniciativa, mas poucos tem essa acabativa: Por mais que a iniciativa seja bacana, o pontapé inicial, a ideia do produto ou de um recurso específico, é o processo depois dela que realmente conta. Para isso, o sênior consegue antecipar os limites que sabe que irão surgir, e com isso definir um caminho mais certeiro a ser trilhado para que o produto veja a luz do dia mais rápido sem onerar demais a empresa.
Lidar diretamente com outros departamentos
A habilidade de ouvir, respeitar e entender as demandas individuais de outros departamentos da empresa é uma característica importantíssima do sênior. Ele jamais vai impôr metodologias milagrosas, dizendo que está tudo errado e que UX é o toque de Midas que faltava na empresa. Como tem ciência que ter o apreço desses departamentos é primordial pro sucesso do produto, ele vai conquistar estrategicamente esse apoio aos poucos para evitar atritos e ganhar o respeito dos envolvidos, que chamamos de “seat at the table”. É impossível um produto ter sucesso, por exemplo, se os Deptos. de Marketing e de Vendas estiverem em desalinhamento com o trabalho de um UX/UI Designer.
Entender de produto e negócios
Esse fator coloca sêniores muito adiante, porque requer não apenas conhecimento e experiência, mas também interesse genuíno no ponto de vista empresarial. Designers naturalmente estão condicionados a investir todas as suas energias na experiência, estética e funcionalidade do produto, quando é primordial vê-lo realmente como um produto — entender de mercado, concorrentes, custos, potencial e projeção de ganhos, onde há espaço para inovação, os limites da tecnologia e mais — é o que conclusivamente gera impacto real nos resultados da empresa como um todo.
Antecipar problemas
A experiência de um sênior também contém a capacidade de antecipar problemas de origens diversas. Em vez de fechar os olhos para as zonas vermelhas, ele não fica parado: Já conta com eles desde o início e cria planos de ação viáveis para contorná-los, como por exemplo acessibilidade, atenção ao tom do writing, considerar o peso da marca nos detalhes do produto, levar a sério a política de uso de dados de usuários, e mais. E não apenas isso, mas também (ou principalmente) problemas humanos verticais: pontos de choque com sua liderança e com seus liderados.
Se responsabilizar pelos resultados
Por fim, um profissional maduro entende a responsabilidade dos resultados do produto, sendo eles bons ou ruins. Perante um bom resultado, ele identifica os acertos e os intensifica; e a resultados ruins, está disposto a ir a fundo na origem do erro, mesmo que lhe atinja diretamente. Como peça fundamental no produto, tem senso de ownership e não espera para agir, estando sempre em conformidade e alinhamento com a visão de sua liderança.
Aproveite cada etapa do seu crescimento
A pressa de UX/UI Designers quererem acelerar sua seniorização tem acontecido devido à alta demanda das empresas por profissionais desse nível. É a equação desbalanceada: Empresas requerem os mais experientes, mas não dão espaço para os menos experientes adquirirem a experiência. Com isso, estes permanecem descolocados, enquanto os mais experientes são assediados constantemente por diversas empresas e chegam a escolher onde querem trabalhar.
Conforme citamos em nosso artigo “Ainda” sou um UX/UI Designer Júnior, há muito o que se fazer para adquirir o conhecimento e a experiência que as empresas tanto querem. Não é esperar pela vaga dos sonhos, nem pela grande empresa e nem pelo produto mais atraente, mas por sua iniciativa de crescimento profissional convertida em ações imediatas. Na visão de um recrutador, citar que você já trabalhou numa grande corporação sem esclarecer seu papel no projeto, ou ainda dizer que você é capaz de identificar pontos de melhoria e redesenhar um produto já existente (em alguns casos, chega a ser até desrespeitoso com os profissionais que trabalham nesses produtos) não te qualifica automaticamente. Muito mais vale você contar a história da resolução do problema de uma pequena empresa e como esse fato impactou seus resultados. Ações como essa não vão acelerar sua senioridade, mas certamente te tornarão um profissional muito mais interessante e contratável.
Com isso, sua preparação para expôr a qualidade de seu trabalho e a amplitude de sua visão vão ditar o quanto empresas vão captar essa mensagem e se interessarem mais pelo seu perfil. Veja em nosso artigo Elimine ‘detalhes’ que desqualificam seu perfil profissional um aprofundamento maior nesse tema.
Há ainda outro ponto, que é pouco comentado: em certos casos, empresas não precisam realmente de um sênior. Solicitam esse nível por dois motivos principais:
1. Por terem certeza de que receberão dezenas de currículos e portfolios de UX/UI Designers com perfil abaixo do esperado. Isso faz com que se alinhem por cima, pois se abrirem vagas pra níveis inferiores, a qualidade dos candidatos será ainda menor.
2. Por não saberem muito bem a diferença entre os níveis de maturidade na prática. No medo de errar na contratação, optam pelo profissional que representa mais experiência e menor risco.
Por conta disso, se identificarem em seu perfil um match com a necessidade deles, unindo-o com o seu real interesse na vaga e vontade de trabalhar, essa distância pode ser encurtada e a sua tão esperada oportunidade pode estar bem na sua frente. Isso faz com que você reflita no seu valor pessoal atual, e extraia o melhor que pode oferecer falando somente e unicamente a verdade. Seu crescimento profissional é um processo que requer tempo, planejamento, dedicação, foco, humildade e pessoas que podem te acompanhar em cada etapa.
O Júnior interior
Você certamente já deve ter escutado a frase “desperte a criança que vive em você”, certo? Isso significa que quando crescemos, automaticamente vamos deixando algumas propriedades para trás, e nos deparamos em situações onde vemos que certas propriedades nos fazem falta. No universo de carreira em UX/UI Design não é diferente: Um profissional recém-formado ou em migração de carreira está apaixonado por todo esse universo e por isso tem garra, vontade de aprender e de melhorar sempre, é interessado, estudioso, humilde para aceitar críticas e vai supervalorizar as oportunidades que lhe forem abertas. Por isso, todo precisam ter um júnior dentro de si para que essas propriedades não sejam deixadas pelo caminho.
Conclusão
Não tenha pressa de se tornar sênior. Esse rótulo será testado por empresas e recrutadores, e se for mesmo apenas um rótulo, muito rapidamente será questionado e posto à prova. Trate sua carreira como um projeto de vida, entendendo e valorizando a necessidade de passar pelas etapas intermediárias para chegar lá.